A União Africana (UA) tem impulsionado uma campanha global para que os mapas mundiais reflitam o tamanho real do continente africano, criticando a projeção de Mercator, do século XVI, que distorce as proporções e faz com que a África pareça menor do que é na realidade. Essa exigência, formalizada em agosto de 2025, faz parte da iniciativa “Correct the Map” (Corrijam o Mapa), que defende a adoção de projeções mais precisas, como a Equal Earth ou Gall-Peters, para destacar a verdadeira escala da África – o segundo maior continente do mundo.
As representações de Mercator, baseadas em proporções que aumentam o tamanho territórios mais próximos dos polos, refletem perspectivas coloniais de mundo e acabam ilustrando as disparidades entre o Norte e o Sul global.

(Foto: Lara Jameson / Pexels)
As repercussões dessa demanda têm sido amplas e positivas, gerando debates internacionais sobre representações cartográficas e colonialismo. A mídia global, incluindo veículos como CNN, The Guardian e El País, cobriu extensivamente o tema, enfatizando como a distorção histórica marginaliza a África em contextos educacionais e políticos. Cartógrafos e especialistas destacaram a importância da mudança, ainda que apenas alterar projeções não desfaça séculos de desigualdades globais. No âmbito diplomático, a UA ganhou apoio de organizações internacionais, com apelos para que governos e instituições adotem mapas corrigidos em materiais oficiais.
Em redes sociais como o X (antigo Twitter), a discussão viralizou, com posts compartilhando vídeos e infográficos que ilustram o tamanho real da África – capaz de “conter” vários continentes dentro de si. Usuários e influenciadores pan-africanos celebraram a iniciativa como um passo para “tornar Alkebulan grande novamente”, ampliando o alcance da campanha. Até o momento, não há relatos de resistências significativas, mas o debate continua a inspirar reformas educacionais em escolas ao redor do mundo.
No Brasil, por exemplo, recentemente o IBGE lançou um Mapa Mundi que mostra o mundo “de cabeça para baixo”, com a América Latina no centro, num desafio direto às formas clássicas de perspectivas sobre o mundo, num esforço evidente de nos sulearmos.
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Em 1991, o físico brasileiro Marcio D’Olne Campos lançou o texto “A Arte de sulear-se”, onde introduziu pela primeira vez os conceitos de “sulear-se” e “suleamento”. Nessa obra, Campos contesta a delimitação de espaços e tempos específicos, incluindo períodos e épocas da História Universal e da Geografia, impostas pelos países tidos como centrais no mundo. No âmbito da orientação espacial, especialmente quanto aos pontos cardeais, as normas práticas ensinadas são úteis apenas para quem está no hemisfério norte e se orienta a partir dele. Essa visão influenciou diretamente a criação de globos terrestres, mapas e recursos educacionais, nos quais o hemisfério norte é invariavelmente posicionado no topo, em uma colocação superior em relação ao sul.
Essa exigência da UA não é apenas cartográfica: representa uma luta por reconhecimento e equidade em um mundo ainda marcado por narrativas eurocêntricas.
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