Ao menos 135 corpos de palestinos mutilados e com sinais de tortura, devolvidos por Israel à Faixa de Gaza no âmbito da primeira fase do acordo de cessar-fogo, foram retidos em um notório centro de detenção conhecido por inúmeras acusações de tortura e assassinatos arbitrários sob custódia. As informações são de uma reportagem do jornal britânico The Guardian publicada nesta segunda-feira (20/10), com base em depoimentos de autoridades de saúde do enclave.
De acordo com o diretor-geral do Ministério da Saúde de Gaza, Dr. Munir al-Bursh, e um porta-voz do hospital Nasser em Khan Younis, na região sul, onde os corpos estão sendo examinados, um documento depositado em cada saco de cadáver indicava que todos foram mantidos no centro de detenção de Sde Teiman, uma base militar no deserto de Negev.
Esta instalação já é notória por relatos anteriores de tortura e mortes ilegais sob custódia. No ano passado, o próprio The Guardian publicou fotos e testemunhos detalhando que detidos palestinos em Sde Teiman eram mantidos em gaiolas, vendados, algemados a camas e forçados a usar fraldas.
“As etiquetas de documentos dentro dos sacos de cadáveres estão escritas em hebraico e indicam claramente que os restos mortais foram mantidos em Sde Teiman”, disse Bursh. “As etiquetas também mostraram que testes de DNA foram realizados em alguns deles lá.”
Médicos em Khan Younis relataram que os exames forenses iniciais “indicam claramente que Israel realizou atos de assassinato, execuções sumárias e tortura sistemática”. Entre as descobertas documentadas estão sinais de tiros diretos à queima-roupa na cabeça e no tórax, e corpos esmagados por tanques militares.

Omar Al-Qattaa/Getty Images
Tortura em prisão
Um investigador israelense que testemunhou as condições no centro de Sde Teiman descreveu ao The Guardian a chegada de pacientes de Gaza com ferimentos a bala, vendados, algemados e nus.
“Fui mantido lá por 100 dias, durante os quais permaneci algemado e com os olhos vendados. Muitos morreram na prisão, outros perderam a cabeça. Alguns tiveram membros amputados. Eles sofreram abuso sexual e físico. Eles trouxeram cachorros que urinaram em nós. Quando perguntei por que havia sido preso, eles responderam: ‘Matamos todos os jornalistas. Eles morreram uma vez. Mas nós o trouxemos aqui e você morrerá centenas de vezes’”, relatou o jornalista palestino Shadi Abu Seido, que foi libertado após 20 meses de detenção, parte deles em Sde Teiman, em entrevista à emissora turca TRT:
Procuradas pelo The Guardian, as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram ter encaminhado as acusações de tortura ao Serviço Prisional de Israel (IPS, na sigla em inglês) que, por sua vez, não se manifestou. Sobre os abusos em Sde Teiman, a IDF afirmaram, em declarações anteriores, tratar os detidos “de forma adequada e cuidadosa” e que qualquer alegação de má conduta é examinada.
A devolução dos corpos ocorre no contexto da primeira fase do acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, na qual o Hamas também entregou os corpos de prisioneiros israelenses que morreram em cativeiro. Até o momento, Israel transferiu os corpos de 150 palestinos, mortos após o 7 de outubro de 2023.
O post Israel teria ocultado 135 corpos mutilados de palestinos em prisão de Sde Teiman apareceu primeiro em Opera Mundi.