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PCP lança candidatura presidencial e promete defender Constituição de Abril

Portugal vive hoje uma das fases mais delicadas da sua democracia desde a Revolução dos Cravos, em 1974, que derrubou a ditadura salazarista e abriu caminho para a Constituição de 1976. Em apenas três anos, o país foi às urnas três vezes para eleições legislativas, reflexo de uma instabilidade política marcada pela erosão dos partidos tradicionais e pelo avanço meteórico da extrema-direita.

Nas legislativas de maio, a coligação de centro-direita liderada por Luís Montenegro (PSD) manteve-se no poder, mas a grande novidade foi a ascensão do Chega, de André Ventura, à segunda posição no Parlamento. O campo progressista, em contrapartida, atravessa um momento de fraqueza: o Partido Socialista perdeu fôlego, enquanto Bloco de Esquerda, Livre e PAN continuam representados, mas sem mobilização nacional.

Nesse cenário, o Partido Comunista Português (PCP) decidiu entrar em campo de forma mais incisiva. O histórico partido lançou a candidatura de António Filipe à Presidência da República, nas eleições previstas para janeiro de 2026. Jurista, professor e militante comunista desde a juventude, Filipe foi deputado por mais de 30 anos e vice-presidente da Assembleia da República por três mandatos. Figura respeitada dentro e fora do PCP, ele promete uma candidatura de unidade em defesa da Constituição de 1976.

Assista a íntegra da entrevista:

Guardião da Constituição de 1976

Em entrevista ao Entrelinhas Vermelhas, António Filipe destacou que o regime português é semipresidencialista: o Presidente não governa diretamente, mas exerce funções de arbitragem fundamentais, com poderes de veto e até de dissolução do Parlamento. Para ele, a função central do próximo presidente será garantir o cumprimento da Constituição, que ele chama de “bilhete de identidade da Revolução de Abril”.

Críticas à extrema direita e à União Europeia

Filipe denunciou o avanço da extrema direita como resultado de fake news em massa, promoção midiática desproporcional e uma estratégia de exploração do medo em torno da imigração. Segundo ele, a direita tradicional utiliza o crescimento do Chega como “almofada” para aplicar uma agenda neoliberal e reacionária, que ameaça os direitos trabalhistas e sociais conquistados após 1974.

O candidato comunista também criticou a submissão da União Europeia às diretrizes de Washington e defendeu a necessidade de Portugal recuperar margens de soberania econômica hoje limitadas pelo euro e pelos critérios de austeridade de Bruxelas. “A Constituição consagra direitos sociais inalienáveis – saúde, educação, trabalho. O presidente deve ser o guardião desses valores”, afirmou.

O “ovo no outro cesto”

A corrida presidencial de 2026 deve contar ainda com nomes ligados ao PSD, ao PS e à Iniciativa Liberal, além da provável entrada de um candidato da extrema-direita. Para Filipe, no entanto, sua candidatura representa a única voz à esquerda com condições de unir setores democráticos frente à ofensiva conservadora.

“Sou o único ovo no outro cesto”, resumiu, numa metáfora em que contrapõe o bloco formado pela direita e extrema-direita à necessidade de um contrapeso progressista na Presidência da República.

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